Após a independência em 1975, Angola estabeleceu um projecto nacional transversal. A saída dos portugueses deixou uma lacuna na estrutura operacional do país. Angola estabeleceu cooperação diplomática com muitos países socialistas, entre eles a República Democrática Alemã (RDA). Destas relações surgiram vários programas de educação e emprego, o que já acontecia entre a RDA e outros países socialistas, no que ficou conhecido pelo termo gastarbeiter ("trabalhador convidado", em alemão) ou ainda vertragsarbeiter (“trabalhador contratado”). As intenções com Angola neste sentido se intensificaram com a visita de Erich Honecker em fevereiro de 1979 ao primeiro presidente, Dr. António Agostinho Neto. Conversações adicionais foram estabelecidas com o presidente José Eduardo dos Santos em 1981, 1984 e culminaram na assinatura de um tratado de estado para emprego e qualificação na RDA, em março de 1985.

O processo de recrutamento de jovens para o programa foi anunciado de forma breve pela Rádio Nacional de Angola e foi realizado de maneira quase silenciosa e aleatória, entre jovens sem função definida, técnicos ministeriais ou mesmo trabalhadores de pequenas empresas. A esses jovens foi dito apenas que receberiam uma bolsa de estudos da RDA. Não lhes foram fornecidas informações adicionais. Quando chegaram à RDA, foram recebidos em cerimónias organizadas pela embaixada e receberam seus passaportes e outros documentos, sob o pretexto de evitar movimentação com a República Federal da Alemanha. Foram fornecidos com um cartão de identificação público e submetidos a exames de saúde em Angola, antes da partida, e na RDA, após a chegada. Nos primeiros três meses, passaram por um curto período de aprendizado da língua alemã e depois foram distribuídos para fábricas.

Em vez da qualificação prometida, os angolanos foram utilizados como mão-de-obra barata em mineração a céu aberto, agricultura, fabricação de peças de carro, charcutaria, produção têxtil e fábricas de construção nas cidades de Berlim, Eberswalde, Cottbus, Ludwigsfelde, Potsdam, Dresden, Rockstock, Chemnitz (antes Karl-Marx-Stadt), e Leipzig. Eles enfrentavam horários rígidos de trabalho em três turnos: manhã a partir das 6h, tarde a partir das 14h e noite a partir das 22h. Os trabalhadores eram obrigados a trabalhar até dois turnos, realizando tarefas que os trabalhadores alemães não podiam ou não pretendiam mais fazer. Os salários destes trabalhadores eram deduzidos em cerca de 60%, supostamente para serem enviados como pensões quando retornassem a Angola após o término do contracto.

Os trabalhadores eram distribuídos em dormitórios conjuntos, onde podiam partilhar entre 3 a 5 pessoas. A vida social era marcada por muitas restrições. Além da dificuldade de equilibrar trabalho e tempo livre, eles tinham o mínimo contacto possível com alemães locais. Apenas na igreja e na rua tinham a oportunidade de conhecer cidadãos da RDA. No entanto, tais encontros muitas vezes eram marcados por actos discriminatórios e de racismo. 

A vida social dos trabalhadores dentro de seus próprios círculos era marcada por reuniões em pequenos clubes sociais, onde podiam celebrar ou se expressar livremente. Haviam também campeonatos de futebol com equipas de Angola e Moçambique, e actividades de outros desportos e música. As celebrações nacionais, como o dia da independência, eram observadas em conjunto com a embaixada. 

Trabalhadores com talentos musicais ou desportivos eram convidados a participar em actividades do Partido Socialista Unificado da Alemanha como parte da propaganda socialista e promoção das leis anti-racista. A propaganda pela amizade e contra o racismo prevaleceu na RDA, mas crimes baseados na cor da pele ainda eram cometidos. A palavra "arruaceiro" era usada para identificar ou encobrir alguns destes actos invisíveis.

A unificação da Alemanha representou um período de incerteza para os "vertragsarbeiter". Os acordos governamentais foram automaticamente anulados pelo novo governo federal unificado. Os trabalhadores africanos - de Angola e Moçambique - foram os primeiros a ser demitidos das fábricas. E lhes foi dada a escolha de retornar ao país ou permanecer na Alemanha e solicitar asilo. Receberam cerca de 3000 DM para o retorno voluntário a Angola. Aqueles que decidiram ficar não receberam pagamento. 

A referência à situação angolana em muitos documentos oficiais dos arquivos da RDA é feita sempre como uma nota de rodapé. Há muito pouca informação conclusiva sobre a situação dos angolanos durante os anos de contracto. Razões óbvias para isso podem ser o curto período que o programa durou para Angola, de 1985 a 1989, em relação a outros países com acordos a partir de 1979, como Moçambique, ou 1966, como a Polônia. O número reduzido de angolanos também é outro detalhe importante. É amplamente relatado que o número exacto de trabalhadores contactados de Angola na RDA seja de 1300, no entanto, outras fontes indicam que o número real pode ser tão alto quanto 1650. Outras estimativas citam 4000 ou até 5000 angolanos. A disparidade nos números acontece geralmente devido a migração angolana na RDA por outras razões. Em 1990, apenas 200 angolanos decidiram permanecer na Alemanha unificada.